Enquadramento de oportunidade/problema (Framing)

Por que “enquadrar” os oportunidade/problema

ou qual o problema que estamos tentando resolver?

Precisamos definir e restringir a oportunidade/problema que estamos enfrentando, por isso o enquadramento tem três grandes objetivos:

  1. Mapear o espaço do problema da descoberta
  2. Identificar os principais riscos que existem relacionados a essa oportunidade/problema
  3. Gerar alinhamento entre os envolvidos sobre a oportunidade/problema a ser explorada

O enquadramento (framing) é um tipo de atividade que compreende um conjunto de técnicas e ferramentas que servem para delinear e caracterizar a oportunidade/problema que deve ser tratada durante a descoberta.

Utilizei a expressão “tipo de atividade” pois não é uma etapa, um processo ou uma metodologia. É algo que podemos/devemos fazer como parte do contexto de descoberta.

Dessa forma, utilizaremos o enquadramento para estruturar nossas conversas sobre a oportunidade/problema que estamos enfrentando, trazendo mais informações de modo estruturado e coerente para os stakeholders e demais envolvidos.

O enquadramento não é sobre o planejamento ou execução da descoberta e não é sobre especificação de projeto/iniciativa (desenho da solução).

Queremos entender se uma oportunidade/problema merece ser explorada e/ou mostrar que determinada oportunidade possui uma série de riscos.

Espaço do problema

Podemos entender o enquadramento como a delimitação do espaço do problema. Para isso, é importante separarmos o Espaço do Problema (Problem Space) do Espaço da Solução (Solution Space), conceitos apresentados pelo Dan Olsen:

  • O Espaço do Problema é onde as dores, vontades, necessidades, desejos dos usuários estão
  • O Espaço da Solução é onde estão nossos protótipos, mockups, wireframes, todas as representações daquilo que entendemos que será utilizado pelo usuário

Precisamos delimitar o espaço do problema antes, pois ele define o nosso mercado potencial. Alguns aspectos do Espaço da Solução podem ser discutidos, mas o foco é no Problema.

Customers don’t care about your solution. They care about their problems. - Dave McClure

Descobrir X Especificar

Importante lembrar que, quando falamos do enquadramento, estamos discutindo uma atividade que ocorre dentro do contexto de descoberta. É muito fácil confundir descoberta com especificação, por isso vale a pena diferenciar:

  • Descobrir é:
    • Explorar o problema
    • Mapear as lacunas de conhecimento
    • Reduzir os riscos
    • Entender o que vale a pena ser feito
  • Especificar é:
    • Definir a solução
    • Detalhar para poder construir e comunicar
    • Reduzir os custos
    • Definir o que precisa ser construído

Mapear o espaço do problema da descoberta

Precisamos descrever a oportunidade, de modo a descrever e compreender seus principais componentes, contexto e atores.

  • O que sabemos? O que não sabemos?
  • Quais nossas crenças?
  • Para onde os outros estão indo?
  • Qual o tamanho dessa oportunidade em termos de mercado?
  • Quais problemas estamos resolvendo para os clientes? E por que são problemas relevantes?

Essas respostas não estão (e nem deveriam estar) na cabeça de somente uma pessoa. Os clientes/usuários também não são a fonte definitiva de informações, mas sim mais uma fonte possível. Busque fontes diversificas, sejam pessoas, dados, pesquisas, concorrentes.

Identificar os principais riscos

Além da descrição, é necessário explorar sobre aquilo que pode levar a desistir da oportunidade: os riscos que temos ao tomar o caminho que ela oferece.

Devemos identificar riscos financeiros e não-financeiros, internos e externos:

  • Risco de valor: atacar essa oportunidade tem valor para nossos clientes/usuários?
  • Risco de execução: temos capacidade técnica e de negócios para atacar essa oportunidade/problema?
  • Risco de negócio: ao atacar essa oportunidade, há riscos para o negócio atual da empresa, seja por afetar o modelo de negócio, por possíveis problemas de imagem ou questões legais?

Como no ponto anterior, conseguir entender esses riscos todos não é consultar uma fonte/pessoa somente.

Gerar alinhamento entre os envolvidos

Queremos que as principais pessoas envolvidas tenham um entendimento comum da oportunidade/problema, possam discutir, trazer pontos complementares e apoiar as decisões necessárias.

Para isso, só obter dados e informações e compilá-los não é suficiente. Precisamos engajar essas pessoas de modo contínuo. Um recurso muito relevante é o uso de narrativas, a construção de uma história que ajuda a entender o problema/oportunidade, traz os principal do que foi coletado para sustentar o que está sendo contado e dar mais contexto para as pessoas envolvidas. Podemos usar canvas, apresentações, documentos escritos…

Como resultado do alinhamento, queremos poder tomar decisões frente a oportunidade/problema, tanto quanto a sua manutenção e aos parâmetros de validação/invalidação, caso a opção seja explorá-la.

E não “enquadre” demais

Não temos tempo infinito, portanto restrinja o tempo dedicado ao enquadramento de oportunidades/problemas. O quanto gastamos de energia e tempo no enquadramento depende de alguns fatores:

  • Do tamanho da oportunidade
  • Do volume de riscos e problemas que temos que mapear
  • Da complexidade da narrativa
  • Do número de pessoas a alinhar/convencer
  • Da reversibilidade/irreversibilidade das decisões a serem tomadas

Problemas muito simples ou com poucos e baixos riscos, podem ser enquadrados em horas, necessitando somente alguns alinhamentos. Oportunidades que podem mudar a empresa exigirão muito mais tempo, esforço e conversas para que o resultado seja satisfatório.

Perguntas para discussão

  • O que você faz quando um novo problema/oportunidade surge? Como você explora as oportunidades?
  • Quanto tempo da sua semana você dedica para esse tipo de trabalho? Quantas horas dedicou na última semana?
  • Quais modelos de enquadramento de oportunidade/problema você utiliza ou já utilizou?
  • Como você avaliaria a necessidade de tempo para um enquadramento?

Três livros

  1. Escaping the build trap - Melissa Perri
  2. Product Management for Dummies - Brian Lawley & Pamela Schure
  3. Inspired - Marty Cagan

Agradecimentos ao Lula Rodrigues e a Eluza Pinheiro por ler, revisar, trazer melhorias e complementos

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