Pensamento sistêmico

O pensamento sistêmico (systems thinking) é uma perspectiva, uma linguagem e um apanhado de ferramentas

  • Oposto do pensamento linear
  • Holístico (integrativo), não analítico (dissecativo)
  • Foco nas relações ao invés dos componentes
  • Evoluiu da Teoria Geral dos Sistemas (Bertalanffy)
  • Utiliza da dinâmica dos sistemas e da modelagem da dinâmica de sistemas para tentar entender o comportamento de um sistema no tempo, para identificar variáveis, para assim entender como o sistema pode ser impactado positivamente e tentar predizer o seu comportamento futuro
  • Não elimina ou substitui os pensamentos analíticos e estatísticos, mas os complementa
  • O pensamento sistêmico reconhece e endereça a natureza dinâmica dos sistemas e que os ciclos de feedback são essenciais para entender o comportamento da dinâmica do sistema

De acordo com Weinberg:

  • Pensamento analítico lida com Simplicidade Organizada
  • Pensamento sistêmico lida com Complexidade Organizada
  • Pensamento estatístico lida com Complexidade Desorganizada

O Pensamento sistêmico requer que nós reconheçamos que, em sistemas projetados por humanos, eventos repetitivos ou padrões derivam de estruturas sistêmicas, as quais, por sua vez, deriva de modelos mentais (ou paradigmas):

  • Sistemas naturais são auto-organizados
  • Sistemas humanos podem ser auto-organizados ou projetados

Auto-organização

Auto-organização é um processo no qual um padrão emerge no nível global do sistema exclusivamente devido às numerosas interações nos componentes em níveis abaixo do sistema. Além disso, as regras que especificam as interações entre os componentes do sistema são executadas usando somente informação local, sem referenciar o padrão global.

O padrão é uma propriedade emergente do sistema, mais que uma propriedade imposta ao sistema por uma influência externa.

Portanto, a auto-organização existe se - independentemente das intenções ou mesmo da existência de um organizador ou plano central -, padrões regulares ou arranjos de padrões emergem das interações do sistema em si.

Emergência

Propriedades emergentes são propriedades do sistema como um todo, além das propriedades que podem ser derivadas das propriedades dos seus componentes. São consequência das relações entre as partes do sistema. Portanto só podem ser acessadas e medidas uma vez que os componentes estão integrados ao sistema. Isto significa que não é possível endereçar propriedades emergentes utilizando o pensamento reducionista (analítico).

Duas linhas de pensamento

Há duas linhas de pensamento sistêmico. Seguem as diferenças:

  1. A primeira linha tem o modelo iceberg como elemento central do pensamento sistêmico e nos padrões e eventos que são causados pelas estruturas sistêmicas e modelos mentais. O elemento fundamental do pensamento sistêmico é a dinâmica do sistema. Não iguala pensamento sistêmico à dinâmica do sistema;
  2. A outra escola foca nas interrelações entre os componentes do sistema, os comportamentos dinâmicos que aparecem delas e a modelagem da dinâmica do sistema. Tende a igualar pensamento sistêmico à dinâmica do sistema. Não utiliza do modelo iceberg.

O pensamento sistêmico exige os seguintes questionamentos

  • Quais as circunstâncias e atitudes levaram até esse ponto?
  • Quais ações e padrões comportamentais levaram até esse ponto?
  • Quais as atitudes, ações e padrões desejáveis para além?
  • Quais são as prováveis reações dos meus: aliados, inimigos, competidores, pessoas neutras e do ambiente?

Glossário

Acumulador: qualquer coisa que cresce ou diminui; por exemplo, água em uma banheira, economias em uma conta bancária, inventário em um estoque. O acumulador também é conhecido como Estoque ou Nível.

Auto-organização: A tendência de um sistema em desenvolver estruturas ou padrões sem a intervenção de um planejador central ou de um plano central, simplesmente devido às interações entre os elementos do sistema.

Ciclo/Processo de balanceamento: Combinado com os ciclos de reforço, os processos de balanceamento formam os blocos de construção dos sistemas dinâmicos. Processos de balanceamento buscam equilíbrio: Eles tentam trazer as coisas para o estado desejado e mantê-las ali. Eles também limitam e restringem a mudança gerada por um processo de reforço.

Ciclos/Processos de reforço: Conjuntamente com os ciclos de balanceamento, os ciclos de reforço formam os blocos de construção dos sistemas dinâmicos. Processos de reforço ajustam a mudança em uma direção com um pouco mais de mudanças na mesma direção. Assim sendo, eles geram crescimento e colapso. Ciclos de reforço também são conhecidos como ciclos virtuosos ou viciosos.

Complexidade: Característica do sistema que tem muitos componentes e muitas formas desses componentes interagirem.

Consequências não-intencionais: Results of actions that were nether planned nor foreseen due to a lack of systems thinking.

Diagrama estrutural: Retrata os acumuladores e os fluxos em um sistema, gerando uma visão geral dos maiores elementos estruturais que produzem o comportamento do sistema. Também são chamados de diagramas de fluxo ou diagramas de fluxo/acumulador.

Emergência: Propriedades de um sistema como um todo, além das propriedades que podem ser derivadas das propriedades dos componentes do sistema. Propriedades emergentes são a consequência dos relacionamentos entre os componentes do sistema.

Estrutura: A maneira na qual os elementos de um sistema estão organizados ou interrelacionados. A estrutura de uma organização, por exemplo, poderia incluir não somente o diagrama organizacional, mas também fluxos de informação, interações interpessoais e relacionamentos, regras e procedimentos, autoridades e níveis de aprovação, fluxos de processos, rotas, atitudes, reações (e os incentivos e medos que as causam), cultura corporativa e ciclos de feedback.

Eventos: Coisas que acontecem e que podemos ver ou observar.

Feedback (retorno): O retorno de informação sobre o estado de um processo.

Fluxo: A quantidade de mudança que alguma coisa sofre durante um determinado período de tempo. Por exemplo, a quantidade de água que fui para fora da banheira a cada minuto, ou a quantidade de interesse ganho em economizar dinheiro a cada mês. Esses exemplos também são chamados de Taxas.

Hierarquia: Os muitos níveis de organização em um sistema. Em sistemas, hierarquias frequentemente evoluem de baixo para cima. Níveis estáveis de hierarquia provêm estabilidade e resiliência para o sistema. Também facilitam a evolução de sistemas simples em complexos.

Holismo: A teoria ou filosofia de que sistemas apresentam características que são mais que a soma de suas partes e que o entendimento do sistema não pode ser obtido por analisar as partes isoladamente.

Modelos mentais: paradigmas ou estruturas de crença que tentam interpretar e/ou simplificar o universo no qual vivemos. Por exemplo: Um MBA o fará rico; Compensação por incentivo aumenta a produtividade; Garotas gostam de corvetes. Modelos mentais frequentemente levam a estruturas sistêmicas que podem ser intencionais ou emergentes.

Padrões: Apanhados de eventos observáveis consistentes e recorrentes. Padrões podem ser físicos, comportamentais ou mentais. Padrões são comumente causados por estruturas sistemas e forças subjacentes.

Pensamento sistêmico: Uma escola de pensamento que foca em reconhecer as interconexões entre as partes de um sistema e sintetiza-os em uma visão unificada do todo.

Ponto de alavancagem: Uma área onde uma pequena mudança pode produzir grandes mudanças em um sistema.

Sistema: Um grupo de elementos que interagem, interrelacionam ou se interdependem, formando um todo unificado que tenta manter estabilidade através de feedback, tem limites e restrições, e para o qual a disposição desses elementos é significativa. Há tanto sistemas projetados por humanos (que servem a um propósito específico) quanto sistemas naturais, tais como o sistema solar.

Ferramentas de pensamento sistêmico

As oito ferramentas apontadas por Monat e Gannon são

  • Arquétipos de sistemas (Systems Archetypes)
  • Gráficos de comportamento sobre tempo (Behavior Over Time (BOT) Graphs)
  • Diagramas de ciclos causais com Feedbacks e Atrasos (Causal Loops Diagrams with Feedback and Delays)
  • Diagramas sistêmicos (Systemigrams)
  • Diagramas de estoque e fluxo (Stock and Flow Diagrams (including Main Chain Infrastructures))
  • Dinâmica do sistema/Modelagem computacional (System Dynamics/Computer Modeling)
  • Modelagem estrutural interpretativa (Interpretive Structural Modeling (ISM))
  • Análise de causa raiz (Root Cause Analysis)

As ferramentas seguem os seguintes critérios: a) a ferramenta deve ser amplamente aplicável a maioria dos sistemas, não somente a uma pequena subcategoria de sistemas; b) deve ser descrita na literatura de pensamento sistêmico; c) deve ser fácil de usar e entender sem treinamento extenso; d) deve endereçar ao menos um dos conceitos de pensamento sistêmico, e; e) seu principal foco deve ser o entendimento de sistemas existentes, oposto ao projeto de novos sistemas.

Arquétipos de sistemas (Systems Archetypes)

São estruturas de problema-causa que estão repetidas em múltiplas organizações, sistemas e situações. Sua identificação é o primeiro passo para mudar a estrutura destrutiva.

Existem 10 tipos comuns de estrutura:

  • Adversários acidentais (Accidental Adversaries)
  • Corrija aquela falha (Fixes that Fail (policy resistance))
  • Limites para crescimento (Limits to Growth)
  • Mudando a carga (Shifting the Burden (addiction))
  • A tragédia dos comuns (The Tragedy of the Commons)
  • Desvio para baixo desempenho (Drift to Low Performance (eroding goals))
  • Escalação (Escalation)
  • O rico fica mais rico (The Rich get Richer)
  • Espancamento da regra (Rule Beating)
  • Buscando o objetivo errado (Seeking the Wrong Goal)

Gráficos de comportamento sobre tempo (Behavior Over Time (BOT) Graphs)

São visualizações de dados pertinentes à variáveis do sistema sobre o tempo. Servem para entender a variação do comportamento do sistema ao passar do tempo, seus ciclos e interrelações entre fatores.

Diagramas de ciclos causais com Feedbacks e Atrasos (Causal Loops Diagrams with Feedback and Delays)

O comportamento dos sistemas é geralmente determinado pela presença de ciclos causais com feedback e atrasos. Estes podem ser óbvios ou não. Em ambos os casos, desenhar os ciclos auxilia a enxergar os interrelacionamentos entre todos os componentes do sistema. Estes podem se tornar um tanto complicados como relacionamentos de causa-e-efeito, pois muitos interrelacionamentos são ocultos ou difíceis de enxergar, e devem ser identificados.

Diagramas sistêmicos (Systemigrams)

Tentam traduzir o problema do sistema (expresso em texto estruturado) em um diagrama tipo storyboard, descrevendo os principais conceitos, atores, eventos, padrões e processos do sistema, É lido normalmente do canto superior esquerdo para o canto inferior direito. Deve estar contido em uma página e comunicar a mensagem principal do texto. Cores podem ser utilizadas para indicar similaridade, ligações ou transformações, chamar atenção de elementos chave, etc. Mesmo que possam conter os elementos de um diagrama de ciclo causal, seu objetivo não é apresentar os feedbacks e atrasos, mas contar uma história.

Diagramas de estoque e fluxo (Stock and Flow Diagrams (including Main Chain Infrastructures))

Sistemas frequentemente envolvem acumuladores ou estoques de “coisas”. Essas “coisas” podem ser físicas (água, energia, coelhos, clientes, dinheiro) ou não-físicas (emoções, ideias, arquivos digitais), Esses estoques podem aumentar ou diminuir conforme os fluxos que entram e saem dele.

O diagrama de estoque e fluxo apresenta os estoques e os fluxos. É frequentemente desenvolvido em conjunto com os diagramas de ciclo causal e são importantes precursores da modelagem da dinâmica do sistema. Ambos são inestimáveis na compreensão do comportamento do sistema,

  • Ver Bellinger para aprender a traduzir diagramas de ciclo causal em diagramas de estoque e fluxo
  • Ver Goodman, Kemeny and Roberts para entender a linguagem de descrição de sistemas em diagrama de estoque e fluxo

Dinâmica do sistema/Modelagem computacional

É o estudo e a análise do comportamento do sistema conforme o passar do tempo. É difícil compreender o comportamento de um sistema sem observá-lo historicamente, dado que muitas vezes pode ser contra-intuitivo. A modelagem do sistema ajuda a entender por que o sistema se comporta desse modo, mas também ajuda a identificar os pondos de controle e como alguém pode influenciar o sistema.

Modelagem estrutural interpretativa (Interpretive Structural Modeling (ISM))

É um processo de aprendizado interativo auxiliado por computador que objetiva identificar a estruturas sistêmicas por transformar modelos mentais vagos e mal definidos em representações gráficas claras e bem definidas. O processo inicia identificando variáveis relevantes e plotando-as em um gráfico. Aqueles elementos que estão relacionados são conectados por uma linha direcional. A existência e natureza dos relacionamentos são determinados por um grupo que coletivamente julga, determinadno o modelo final (aprendizado em grupo).

  • Ver Warfield (1974), Attri et al. (2013), e Lendaris (1980) para aprender a aplicação

Análise de causa raiz (Root Cause Analysis)

É uma classe de métodos de solução de problemas que auxiliam a identificar as causas raízes, não os sintomas, de um problema. É um método passo-a-passo que direciona para a descoberta de causas primárias para problemas no sistema. Um exemplo de técnica bastante simples é os 5 Porquês. Geralmente as empresas param sua análise de causa-raiz muito cedo nas seguintes situações: erro humano, procedimento não seguido, menos treinamento do que o adequado, falha em equipamento. O que é efetuado é normalmente um curativo, tapando o sintoma, sem corrigir o problema. Encontrar a causa-raiz é a base para o entendo da causa-problema sistêmica.

Termos a serem estudados além

  • Interpretive Structural Modelling
  • N2 Charts
  • Ackoff‘s f-Laws

Anotações relacionadas